segunda-feira, 5 de maio de 2003

Itararé e Bom Sucesso de Itararé

O fato mais inusitado me ocorreu no último dia da viagem quando eu estava sozinho e decidi subir à Pedra dos Cristais, localizada em Bom Sucesso de Itararé. Apesar do dia não estar propício para nenhuma trilha devido ao mal tempo, fui à procura de informações sobre o acesso ao cume desta Pedra. Encontrei uma casa de frente a umas plantações de pinheiros na base da montanha. Uma Senhhora muito simpática que estava na janela me explicou a direção por onde as pessoas costumam seguir. Quando saí do carro seu cachorro se mostrava muito contente correndo de um lado para o outro. Seu nome era Peka. Ela disse que ele era conhecido como o "Cachorro da Montanha", pois sempre acompanhava todas as excursões que saíam para o topo da Pedra.




Era 13:30h, mal comecei a caminhar, o cachorro correu até a Porteira da fazenda onde começava a subida. Ele sempre saía em disparada e depois ficava me esperando lá na frente. Este era o Guia que eu precisava! Percorremos toda a plantação de pinheiros e ao deparar com a mata fechada, o Peka entrou numa fresta, onde se iniciava a trilha. Sua presença me deixava tranquilo, já que ele poderia pressentir qualquer animal ou réptil que estivesse por perto, sem contar que a sua companhia era muito divertida. Às vezes eu tentava alcança-lo, daí ficava os dois correndo montanha acima. Foi uma escalaminhada bem sossegada até o topo, no entanto o paredão tem o cume com uma extensão de vários kilômetros. Percorrendo o cume encontrei umas plantas exóticas e comecei a tirar fotos quando de repente uma neblina cobriu toda a ontanha e perdi as referências que estavam lá embaixo. Era como se tivesse ficado quase cego, estava completamente perdido, sem contar que neste momento Peka tinha sumido. ele gostava de pular sobre o capim alto como se estivesse mergulhando numa piscina de bolinhas. Chamei-o diversas vezes e nada dele aparecer. Começou a chover e ventar forte e com isso o frio passou a se intensificar cada vez maiss. Queria sair o mais rápido possível de lá, pois se eu continuasse ali até o final da tarde com certeza pegaria uma hipotermia e não estava com pilhas sobressalentes para passar a noite caminhando, ou seja, iria ser roubada na certa!

A minha sorte é que durante a subida de vez em quando olhava para trás para decorar o caminho de volta. Fiquei contente quando Peka apareceu, mas ele não queria saber de voltar, ficava correndo sobre o capim alto e por mais uma vez sumiu de novo!

Errei várias vezes o caminho de volta, acabei saindo em beira de diversos precipícios, pois tinha que seguir a própria intuição com a forte neblina. Já era umas 16:30h, eu precisava ser muito ágil para aproveitar cada minuto de luz. Foram várias subidas e descidas incansavelmente na mata fechada.

Eu já estava com bastantes espinhos encravados em minha mão dos tompos e escorregões nos barrancos de mata molhada, pois os galhos tornavam meus únicos apoios para não cair no abismo. Peka me olhava como se estivesse escondendo as gargalhadas. Foi um alívio quando consegui encontrar a trilha de volta.

Cheguei a casa e despedi-me agradecido deste meu novo amigo cão. Com certeza em breve retornarei à Pedra dos Cristais para conhecer seus mistérios e desvendar toda a extensão do seu cume.