terça-feira, 8 de março de 2011

Continuação da escalada no Aconcágua

Veja abaixo a segunda parte do vídeo da escalada no Aconcágua:


DIA 6

Acordei bem aclimatado. Deixei algumas coisas no depósito da LANKO em P.Mulas, tipo bota de caminhada, comida em excesso, camellback. A água da mangueira do camellback sempre congelava a partir dos 4.500m. Subi definitivamente para Nido levando a barraca, comida, etc. Caminhei de botas duplas, isso foi cansativo e desgastante demais.  Cheguei em Nido com forte nevasca e passando muito frio. Saí às 9:50h e cheguei em Nido às 15:50h. Peguei neve para derreter e me hidratar. À noite a dor de cabeça voltou, senti muito frio nas mãos e nos pés.


Só "abrindo um parênteses" sobre a minha logística, organizei a minha alimentação da seguinte forma:

Para as refeições principais eu preparei uma mistura com castanhas, uva passa, amendoim, proteína de soja, orégano, amaranto, kinoa, vários legumes liofilizados e lentilha. Este último foi uma péssima escolha, pois era de difícil cozimento e mastigar a lentilha crua me dava ânsia de vômito. Aproveitei os dias de descanso para tirar a lentilha das misturas. Também contava com porções de yakissoba vegetariano, latas de atum, caldo maggi, tahine, arisco

Para o café da manhã preparei uma mistura de açúcar mascavo, com leite de soja, farinha láctea, granola, flocos de milho, pólen e linhaça em pó.

Para lanches preparei frutas desidratadas misturadas com diversas castanhas, também contava com várias barrinhas de paçoca, goiabada, mel, barrinhas de nutri, carbo-up, barras energéticas de chocolate, comprimidos de BCAA.

Na água eu bebia 2 litros misturados com maltodextrina e creatina.

Já os meus treinos foram regrados com alternância entre pedaladas (mountain bike - asfalto) de 50km numa média de 28km/h e corridas de 5 km em 24 minutos, além de musculação.

Levei muitos tipos de remédios para dores de cabeça, intoxicação, gripes, hidrosteril, etc. Mas nenhum deles eu utilizei, deixava que a hidratação desse conta do recado da minha aclimatação e deu certo!!

Caminho para Nido de Condores a 5.500m

Sempre antes de dormir eu protegia as garrafas de águas, baterias, pilhas, headlamp, máquina fotográfica colocando-os todos dentro do saco de dormir. Pois à noite fazia facilmente temperaturas de -20 graus!

DIA 7

Passei esse dia descansando e me hidratando (5 litros por dia). Bebendo essa quantidade de água acabava urinando de hora em hora, então para uma maior comodidade tenha um frasco de boca larga para que você não precise sair toda hora para fora da barraca.
 
Nido de Condores

DIA 8

Levei o saco de equipos de gelo ao Acampamento Berlim e desci a Nido para dormir. 

DIA 9 

Foi a pior nevasca da minha temporada, passei o dia inteiro em Nido  derretendo neve.  Uma dica importante é que mesmo estando aclimatado, a dor de cabeça pode voltar à noite por causa da baixa temperatura. Então tem que proteger muito bem a cabeça do frio na hora de dormir!

 Nido de Condores

DIA 10
 
Ainda havia ventos fortes, mas o tempo passou a  melhorar. Nesse dia os  guardaparques me recomendaram que eu descesse até Plaza de Mulas a 4.500m pois eu já estava a 5 dias numa altitude muito alta me deteriorando em Nido. Veja o vídeo, como foi:



DIA 11
Amanheceu com o tempo perfeito. Subi ao acampamento Berlim a 5.900m para pernoitar e fazer o ataque ao  CUME. O pessoal da LANKO de P.Mulas me anunciou aos Guardaparques como  perdido na montanha! Ao montar o acampamento a única coisa a fazer é me concentrar para reunir todas as forças para acordar de madrugada e começar a longa jornada rumo ao topo do Hemisfério Sul!
 Nido de Condores

Vista de dentro da minha barraca: Nido de Condores

Nido de Condores


DIA 12

Tive a madrugada sem ventos, perfeito! Acordei as 3:20h para  arrumar os equipamentos. So consegui sair as 5h, a caminhada foi  bastante longa, levei 4 litros d´agua, dos quais 3 congelaram dentro da  mochila, o único litro que me restou foi o que guardei dentro do agasalho. Isso me deixou muito preocupado. Alcancei o CUME às 13:30h, fiquei pouco tempo, pois estava  praticamente sem água. A parte da canaleta foi bastante cansativa,  estava com muita falta de ar e o trecho era bastante íngreme! Retornei à barraca às 16h. Cheguei esgotado no acampamento Berlim. Depois de jantar um yakissoba vegetariano, dormi. Veja o vídeo do cume abaixo:


descansando no trecho final da canaleta

Topo do Aconcágua 6.962m

Atingir o cume foi uma sensação de alívio e missão cumprida, foi como um sonho realizado, fiquei imensamente feliz por ter superado meus limites!! Foram muitos dias de treinos intensos que me fizeram valer cada dia na montanha. As paisagens espetaculares foram a minha inspiração para continuar o esforço físico.
DIA 13 

Acordei e desci a P.Mulas. Estava a 5.900m e desci até 4.500m. Tentei ir mais rápido descendo correndo, mas parecia que as minhas pernas não tinham reflexos e estavam fracas. Acabei tomando vários tombos e perder alguns equipamentos por conta disso, parei de correr e passei a descer bem devagar, essa brincadeira estava ficando perigoso demais!!
Vanessa de Mendoza (Argentina), que trabalhava na LANKO em P.Mulas. Abraços ao seu marido Carlos que me ajudou com muitas dicas imprescindíveis para o sucesso da minha escalada

DIA 14 

Demorei mais de 2 horas para organizar e colocar tudo dentro da mochila. Ao fazer o check-out em P. Mulas recebi vários parabéns dos guardaparques por ter atingido o cume. Aumentou a minha auto-estima. Sabia que uma longa trilha me esperava. Minha mochila pesava 30kg, estava gigante e volumosa, inicei caminhando rápido, estava me sentindo forte e confiante. Mas ao longo do tempo, o cansaço foi tomando conta e aos poucos fui diminuindo o ritmo. Quase chegando em Confluência um grupo me passou e ofereceu ajuda, mas eu apenas agradeci e continuei a caminhada. Passei a fazer mais paradas de descanso. Ao chegar no Acampamento Confluência, apenas parei para me reabastecer de água e continuei a jornada até a Portaria Horcones. Foram 10 horas de percurso. No final estava extremamente cansado. Ainda assim recusei mais uma ajuda de um casal de turistas que estavam fotografando a paisagem. Meus dedos dos pés doíam muito, perdi 4 unhas. Mais para frente meus vizinhos de barraca, um grupo mexicano, passou por mim e também ofereceram ajuda, aí acabei aceitando. Passei parte dos meus equipamentos para eles carregarem, pois o grupo contratou uma mula para descer os equipamentos deles. Em suas mochilas só havia lanche e água. Com isso, voltei a caminhar mais rápido e finalmente consegui chegar na Portaria Hórcones, na saída do Parque Aconcágua. Quando tirei a mochila senti meu corpo anestesiado, parecia que eu estava flutuando.... Fiquei uns bons dias sem poder andar direito, voltei com um grande apetite, comia até quase passar mal.... O susto foi quando me vi no espelho, meu rosto estava magro e envelhecido! Mas nada melhor do que alguns dias de boa alimentação e descanso para voltar ao normal!!

Veja a entrevista no STB realizada em Fevereiro de 2011:

Veja também a reportagem no Perfil news de Mato Grosso do Sul:

Um comentário:

  1. caraca, sensacional relato.
    estou a procura de material sobre o aconcagua e encontrei seu blog. se puder entrar em contato, estou planejando uma expedicao para tentar o cume do aconcagua em fevereiro de 2017 e solo, estou com varias duvidas, se pudermos trocar algumas ideias ficaria imensamente grato. grande abraço. Rafael.
    meu contato é
    edaibeavis@gmail.com

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